quarta-feira, 10 de junho de 2015

FALECEU MARIA JOSÉ SILVA, UMA CINEASTA ÍMPAR DA CULTURA PORTUGUESA

Natural da Freguesia da Junqueira no concelho de Vila do Conde, onde nasceu a 3 de Agosto de 1937, Maria José Silva faleceu este domingo no Porto.

Figura inesperada da cultura portuguesa, ela foi realizadora, escritora, actriz e cantora. Viveu no Porto onde fez cinema amador durante mais de 20 anos.

A cineasta Leonor Areal recorda-a como “uma força na natureza - no sentido em que é da natureza humana fazer arte. Maria José era uma artista nata, uma mulher que - sem olhar a circunstâncias adversas - tinha a necessidade de expressar artisticamente - e plenamente - através de todas as artes ao seu alcance: as letras, a música, o cinema.
Fazia o seu cinema, com meios amadores talvez, mas com grande autenticidade, com enorme convicção, quase por obrigação de revelar o mundo em que vivia - e a cultura em que nascera. Era uma mulher cheia de amor ao mundo e aos seus semelhantes. E esse amor - e as suas penas - eram o cerne da sua existência e da sua arte.”

Figura popular do norte e conhecida de muitos programas de televisão, geriu com o marido uma conhecida queijaria portuense na Rua de Santo Ildefonso. Já editava discos e livros de poesia, quando se iniciou no cinema. Realizados com a colaboração dos filhos e dos amigos, de entre os seus filmes destacamos: "Os velhos não são trapos", "A rosa da felicidade", "Amor sem recompensa", "A vida sem amor não presta", "Aconteceu no Natal", "O meu santo preferido" e "O palheiro".

"Mulheres traídas", o seu último filme, é uma história de infidelidades contada na voz feminina.
O realizador Miguel Marques acompanhou de perto a rodagem, filmando e reflectindo sobre como a ficção se faz espelho de uma realidade social.
Diz Miguel Marques: "A morte da Maria José Silva apanhou-me de surpresa. Ter acompanhado os mais de 6 meses de rodagem do seu filme Mulheres Traídas sempre me fez sentir um privilegiado. Nunca me senti estranho, como poderia senti-lo quando era a sua generosidade que mediava todas as relações. Maria José Silva usava o cinema como ferramenta para trabalhar os seus conflitos, e quem colaborava nos seus filmes fazia parte de uma trama muito maior, não eram apenas participantes, mas também agentes transformadores de uma realidade."

Este cineasta, com a participação de Leonor Areal e do Cine-Clube de Avanca, viria a realizar o filme “Mulheres Traídas [making of]” que tendo sido exibido nos festivais de cinema DocLisboa e AVANCA, viria a ser distinguido com o Prémio Melhor Documentário nos Caminhos do Cinema Português em Coimbra.

“Mulheres Traídas [making of]” tinha já prevista a sua estreia este ano nas salas de cinema, pela mão da distribuidora Filmógrafo.

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