segunda-feira, 2 de novembro de 2015

FONSECA E COSTA, ASSUMPTA SERNA E O FESTIVAL DE CINEMA AVANCA

Em 2000 o Festival de Cinema de AVANCA recebeu a atriz Assumpta Serna num inesperado desafio que haveria de transformar a sua carreira.

Assumpta era nessa altura uma das grandes atrizes espanholas com repercussão internacional. Em 1986 tinha protagonizado o filme “Matador” de Pedro Almodovar e logo no ano seguinte vem a Portugal rodar um filme baseado numa obra literária de José Cardoso Pires “A Balada da Praia dos Cães”.

Esta atriz, que voava entre filmes e séries de televisão, com mais de uma centena de participações entre protagonista e papéis diversos de projetos fílmicos europeus e americanos, um dia escreveu um livro. Essa obra chegou aos escaparates das livrarias portuguesas com o título “O trabalho do ator de cinema”, onde a autora procurou dissecar as etapas do trabalho interpretativo a partir de folhas de papel e do próprio corpo, uma identidade inventada, coerente, convincente e atrativa para o espectador. Este era um livro inesperadamente diferente, cujo teor transbordava em contínuos vasos comunicantes por entre a sua vivência pessoal, os momentos marcantes da sua experiência e a importância das pessoas que marcaram o seu trabalho.

No festival de cinema de Avanca dirigiu pela primeira vez um workshop para atores, num trabalho incansável e de grande fulgor que depois disso, veio a repetir continuamente a ponto de dirigir uma conhecida academia de atores em Madrid. Na altura, acompanhando este seu novo trabalho, fez no repleto Auditório de Avanca, a apresentação do seu livro traduzido para a língua de Camões.

Este livro, editado pelo Cine-Clube de Avanca, tem na capa a atriz Assumpta Serna, num momento da rodagem em Portugal do filme “A Balada da praia dos Cães”, onde surge com o realizador do filme José Fonseca e Costa.

Assumpta propôs esta capa para a edição portuguesa do seu livro, quase como um abraço a um realizador luso com quem muito tinha gostado de trabalhar.

José Fonseca e Costa estava a realizar a sua sexta longa-metragem e na sua esteira tinham ficado obras como “O Recado” (1972), “Os Demónios de Alcácer Quibir” (1977), Kilas, o Mau da Fita (1980), o documentário “Música, Moçambique” (1981) e “ Sem Sombra de Pecado” (1983).
Em todos os filmes parece ter deixado portas abertas a que os seus atores o ajudassem a contar uma nova história, a procurar que o filme se abeirar-se mais dos espectadores.

Depois da “Balada da Praia dos Cães”, filmaria “A Mulher do Próximo” (1988), “Os Cornos de Cronos” (1991), “Cinco Dias, Cinco Noites” (1996), “O Fascínio” (2003), “ Viúva Rica Solteira Não Fica” (2006) e preparava-se para terminar “Axilas”.

O tempo finado levou um realizador de atores, mas também um homem de cinema protagonista de muitas lutas, intervenções, uma voz forte com que o cinema português foi crescendo nestas últimas seis décadas.


O livro “O trabalho do ator de cinema” continua nas livrarias com a imagem quase terna de Assumpta e o seu realizador José Fonseca e Costa.

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