Em 2000 o Festival de Cinema de AVANCA
recebeu a atriz Assumpta Serna num inesperado desafio que haveria de
transformar a sua carreira.
Assumpta era nessa altura uma das
grandes atrizes espanholas com repercussão internacional. Em 1986
tinha protagonizado o filme “Matador” de Pedro Almodovar e logo
no ano seguinte vem a Portugal rodar um filme baseado numa obra
literária de José Cardoso Pires “A Balada da Praia dos Cães”.
Esta atriz, que voava entre filmes e
séries de televisão, com mais de uma centena de participações
entre protagonista e papéis diversos de projetos fílmicos europeus
e americanos, um dia escreveu um livro. Essa obra chegou aos
escaparates das livrarias portuguesas com o título “O trabalho do
ator de cinema”, onde a autora procurou dissecar as etapas do
trabalho interpretativo a partir de folhas de papel e do próprio
corpo, uma identidade inventada, coerente, convincente e atrativa
para o espectador. Este era um livro inesperadamente diferente, cujo
teor transbordava em contínuos vasos comunicantes por entre a sua
vivência pessoal, os momentos marcantes da sua experiência e a
importância das pessoas que marcaram o seu trabalho.
No festival de cinema de Avanca dirigiu
pela primeira vez um workshop para atores, num trabalho incansável e
de grande fulgor que depois disso, veio a repetir continuamente a
ponto de dirigir uma conhecida academia de atores em Madrid. Na
altura, acompanhando este seu novo trabalho, fez no repleto Auditório
de Avanca, a apresentação do seu livro traduzido para a língua de
Camões.
Este livro, editado pelo Cine-Clube de Avanca, tem na capa a atriz Assumpta Serna, num momento da rodagem em Portugal do filme “A Balada da praia dos Cães”, onde surge com o realizador do filme José Fonseca e Costa.
Assumpta propôs esta capa para a edição portuguesa do seu livro, quase como um abraço a um realizador luso com quem muito tinha gostado de trabalhar.
José Fonseca e Costa estava a realizar
a sua sexta longa-metragem e na sua esteira tinham ficado obras como
“O Recado” (1972), “Os Demónios de Alcácer Quibir” (1977),
Kilas, o Mau da Fita (1980), o documentário “Música, Moçambique”
(1981) e “ Sem Sombra de Pecado” (1983).
Em todos os filmes parece ter deixado
portas abertas a que os seus atores o ajudassem a contar uma nova
história, a procurar que o filme se abeirar-se mais dos
espectadores.
Depois da “Balada da Praia dos Cães”,
filmaria “A Mulher do Próximo” (1988), “Os Cornos de Cronos”
(1991), “Cinco Dias, Cinco Noites” (1996), “O Fascínio”
(2003), “ Viúva Rica Solteira Não Fica” (2006) e preparava-se
para terminar “Axilas”.
O tempo finado levou um realizador de
atores, mas também um homem de cinema protagonista de muitas lutas,
intervenções, uma voz forte com que o cinema português foi
crescendo nestas últimas seis décadas.
O livro “O trabalho do ator de
cinema” continua nas livrarias com a imagem quase terna de Assumpta
e o seu realizador José Fonseca e Costa.
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