domingo, 23 de agosto de 2015

ANTÓNIO GAIO, A VOLTA AO MUNDO DESDE ESPINHO


Sabíamos muitas coisas dele, conhecíamos a esposa, a família, os amigos... sabíamos de algumas das suas paixões e de como elas em Espinho davam frutos.
Sabíamos que, entre elas, as tiras, os desenhos, as bandas desenhadas quase o recolocavam no seu tempo de jovem. Um colecionador nato...
Sabíamos que por força disso se tinha estatelado, inequivocamente e sem porta de saída, no mundo do cinema de animação.
Mas não sabíamos que seria a 22 deste mês que nos deixaria.
Não sabíamos que contava 90 anos, como se o tempo não tivesse tido conversa com ele.
Afinal, dele não sabíamos tudo, mas sabia-mo-lo sempre presente.
Sabíamos que preservava a amizade (como bem o soubemos).
Sabíamos que por isso contava com ela.
Foi, por isso, marcando os cantos de um mapa que bem conhecia na sua cidade de linhas direitas. Espinho tinha-o por ali sempre. Catalisador de um modo muito especial, gestor sempre presente, participante e apoiante atento, foi construindo com um círculo de amigos marcos de memória que fortificavam cada novo ponto de partida... e foram muitos e bem conseguidos.
Conhecíamos alguns amigos, quase todos os que com ele participavam no cinema de animação em Espinho.
Conhecíamos os amigos do CINANIMA, os que agora fortalecem as paredes desta instituição, mas também alguns que, como agora ele, já por cá não estão.
Conhecíamos-lhe a amizade e parceria que manteve, com o Dr. António Cavacas na forma como dirigiram durante anos os destinos do CINANIMA, da Cooperativa Nascente e pensamos que outras paragens que estravazavam o cinema mas que não fugiam da cidade de ambos.
Conhecíamos a amizade com os cineastas que há muitos anos fazem a animação portuguesa, entre eles, conhecemos e assinalamos sobretudo Artur Correia e Manuel Matos Barbosa (amizade de sempre)...

O CINANIMA, os jornais, o movimento associativo de Espinho, os empreendimentos na cidade por onde passou criaram-lhe algo que parece que ninguém sabia:
afinal, numa pequena cidade longe da capital do país é possível construir um espaço e uma vivência de excelência. Por ali, em Espinho, em movimento constante e em afirmação clara, um homem deu a volta ao mundo sem se afastar da sua praia.

António Gaio foi em 1976 um dos fundadores e dirigente da Cooperativa Nascente, participou na fundação do CINANIMA, sendo diretor deste festival internacional de cinema de animação desde 1980. Cineclubista, publicou em 2000 a obra “História do Cinema Português de Animação – Contributos”, um livro que marca um ponto de partida para a memória da animação portuguesa.
Em 1997, recebeu a Comenda de Mérito Cultural, atribuída pelo Presidente da República e, mais recentemente, os cidadãos de Espinho, as associações e o município prestaram-lhe uma justíssima homenagem. Por ali se juntaram os amigos e foram obviamente muitos...


Entre 1925 e 2015, viveu em Espinho, de forma magnífica, um homem de cinema.

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