sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

UM DIA DEPOIS DA TUCHA PARTIR


Ontem, depois de uma luta feroz e longa contra um destruidor Covid, Tucha Martins partiu.

Um pequeno deserto parece agora criado no seu lugar, um espaço único de artista por entre o teatro e o recente cinema.

Com Vítor Valente e a sua companhia de teatro, a “Tucha” como todos a conheciam,  foi mentora e produtora de grandes eventos culturais que marcaram a sua cidade de Albergaria-a-Velha, espalhando inusitados momentos teatrais por todos os municípios em volta.

“Albergar-te” é um nome que parece dizer tudo. Um evento pleno de afetos, de pessoas e de muitas artes que encheram e surpreenderam em cada ano, o centro da sua cidade.

Mas foi sempre o  Design de Figurinos que mais parece ter marcado a vida por entre a arte de Tucha.

Tendo estudado na Soares do Reis e na  Escola de Moda Gudi, onde cursou Estilismo/Modelação, estudaria depois Teatro - Design de Figurinos na ESMAE, tendo abraçado o ensino com a mesma entrega apaixonada com que marcava tudo o que fazia.

No verão de 2016 chegou ao festival de cinema AVANCA e juntou-se à equipa que produziu no espaço dos workshops, um filme que Joaquim Pavão realizou.

Próximo da “terra”, foi esta que mais pareceu eclodir das imagens de um novo filme arriscado, de profundos negros, onde toda a direção de arte acompanhou a proposta filmica nascida dos textos de Eduarda Dionísio.

O filme chamou-se “Antes que a noite venha: falas de Antígona” e permitiu o primeiro prémio a Tucha Martins no cinema. Foi nos “Vegas Movie Awards”, evento que decorreu em 2019 no estado do Nevada nos EUA, onde Tucha Martins foi galardoada com o Prémio Melhor Guarda Roupa.

O filme correu dezenas de festivais por todo o mundo, tendo sido o filme de abertura do Festival AVANCA 2017.

A colaboração com Joaquim Pavão cimentou-se e os seus figurinos surgem inesperadamente na longa-metragem que o Museu Internacional de Escultura de Santo Tirso apadrinha. Em “Sonhos”, o filme que abriu o 24º AVANCA, as criações de Tucha Martins são únicas.

Poucas vezes se viu assim, no cinema português, uma “explosão de guarda roupa”. Provavelmente, nunca se viu uma sumptuosidade fascinante, surgida de um filme puramente independente.

Num trabalho hercúleo, num desenho afinado, o cinema pôde contar com centenas de metros do melhor tecido nas mãos inspiradas e transformadoras de Tucha Martins.

O seu trabalho de  Design de Figurinos no filme “Sonhos” (2020) é simplesmente brilhante.

O filme espera o fim da pandemia para chegar às salas de cinema, também ele está também nas mãos do Covid.

Tucha deixou também um enorme vazio no espaço de afetos que ela sabia preencher tão bem. 

Nas redes sociais, Joaquim Pavão escreveu “Poderá o amor habitar um corpo? A resposta é Tucha Martins. Os abraços, as longas conversas, a força, a mulher. Tudo o que possa escrever mais é pequeno e fútil. Gostamos tanto de ti”.

Quando estrear o filme “Sonhos” é imperativo ir vê-lo aos grandes ecrãs dos cinemas e ser invadido pela sumptuosidade do trabalho de Tucha Martins.

Por agora fica o trailer e uma imagem do seu ator preferido, Vitor Valente, que agora ficou mais só como todos nós.







O Trailer do filme “Sonhos”: https://vimeo.com/466551674


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