quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O ADEUS A SYLVIA KRISTEL


No crepúsculo dos holofotes de uma presença e fama planetária, Sylvia Kristel esteve em Portugal a convite do festival de cinema AVANCA 2006.
O tempo de actriz dava nessa altura espaço à memória criativa no espaço do cinema de animação.
Nesse ano, o festival abriu com a exibição do filme “Topor e Moi”, um inesperado e surpreendente filme que marcava a estreia de Sylvia Kristel na realização e também no mundo dos desenhos animados. Ali se recria a memória da cena artística de Paris no início da sua carreira.
Hugo Claus, W.F.Hermans, Vadin e obviamente Roland Topor, que tinham já ganho vida nos quadros de Sylvia Kristel (Topor foi seu professor de pintura), são de novo recriados neste filme pleno de sensibilidades, memórias e reflexões que marcaram o seu olhar maduro.
A uma pintura plena de corpos, rostos e cores de quase meia estação, juntou-se o cinema como potenciador gráfico, impulsionador dos movimentos perceptíveis e narrador das histórias que lhe eram urgentes contar.
O cinema parecia ter mudado de estação para Sylvia Krystel.
Em Avanca, a actriz experimentou algo novo - orientar um workshop.
Dirigindo em Avanca “Cinema e pintura – um espaço criativo para protagonistas” Sylvia procurou, à semelhança do seu filme, contar histórias de protagonistas por entre as práticas do cinema, da pintura e da liberdade que juntas, estas artes potenciam.
Kristel, protagonista do papel da mais célebre personagem do cinema erótico europeu, viu o seu êxito rapidamente transposto para a escala global num dos raros momentos em que o cinema europeu ocupou o lugar cimeiro da exibição cinematográfica planetária, ultrapassando rapidamente a mítica fasquia dos 100 milhões de espectadores.
A personagem “Emmanuelle” deu origem a uma sequela de filmes. O primeiro, realizado por Just Jaekin, consolidou um género cinematográfico de que este filme é a sua maior expressão.
Por entre dezenas de personagens que Sylvia Kristel foi protagonizando ao longo de uma carreira com mais de meia centena de filmes, um destaque muito especial para “Alice” de Claude Chabrol, onde tem uma das suas melhores interpretações.
Nos últimos anos, participou sobretudo em produções holandesas, nomeadamente com Dorna van Rouveroy e Ruud Den Dryver, produtores das suas incursões na realização cinematográfica e sobretudo seus amigos.
Sylvia faleceu esta noite.
No apagar da luz, certamente que por entre o crepúsculo, uma nova estrela nos dirá que o eros não é palavra vã e participa na liberdade de voar com que se escreve cada uma das nossas vidas.
Do AVANCA, um adeus e palmas a Sylvia Kristel.

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