Natural da Freguesia da Junqueira no
concelho de Vila do Conde, onde nasceu a 3 de Agosto de 1937, Maria
José Silva faleceu este domingo no Porto.
Figura inesperada da cultura
portuguesa, ela foi realizadora, escritora, actriz e cantora. Viveu
no Porto onde fez cinema amador durante mais de 20 anos.
A cineasta Leonor Areal recorda-a como
“uma força na natureza - no sentido em que é da natureza humana
fazer arte. Maria José era uma artista nata, uma mulher que - sem
olhar a circunstâncias adversas - tinha a necessidade de expressar
artisticamente - e plenamente - através de todas as artes ao seu
alcance: as letras, a música, o cinema.
Fazia o seu cinema, com meios amadores
talvez, mas com grande autenticidade, com enorme convicção, quase
por obrigação de revelar o mundo em que vivia - e a cultura em que
nascera. Era uma mulher cheia de amor ao mundo e aos seus
semelhantes. E esse amor - e as suas penas - eram o cerne da sua
existência e da sua arte.”
Figura popular do norte e conhecida de
muitos programas de televisão, geriu com o marido uma conhecida
queijaria portuense na Rua de Santo Ildefonso. Já editava discos e
livros de poesia, quando se iniciou no cinema. Realizados com a
colaboração dos filhos e dos amigos, de entre os seus filmes destacamos: "Os velhos não são trapos", "A rosa da
felicidade", "Amor sem recompensa", "A vida sem
amor não presta", "Aconteceu no Natal", "O meu
santo preferido" e "O palheiro".
"Mulheres traídas", o seu
último filme, é uma história de infidelidades contada na voz
feminina.
O realizador Miguel Marques acompanhou
de perto a rodagem, filmando e reflectindo sobre como a ficção se
faz espelho de uma realidade social.
Diz Miguel Marques: "A morte da
Maria José Silva apanhou-me de surpresa. Ter acompanhado os mais de
6 meses de rodagem do seu filme Mulheres Traídas sempre me fez
sentir um privilegiado. Nunca me senti estranho, como poderia
senti-lo quando era a sua generosidade que mediava todas as relações.
Maria José Silva usava o cinema como ferramenta para trabalhar os
seus conflitos, e quem colaborava nos seus filmes fazia parte de uma
trama muito maior, não eram apenas participantes, mas também
agentes transformadores de uma realidade."
Este cineasta, com a participação de
Leonor Areal e do Cine-Clube de Avanca, viria a realizar o filme
“Mulheres Traídas [making of]” que tendo sido exibido nos
festivais de cinema DocLisboa e AVANCA, viria a ser distinguido com
o Prémio Melhor Documentário nos Caminhos do Cinema Português em
Coimbra.
“Mulheres Traídas [making of]”
tinha já prevista a sua estreia este ano nas salas de cinema, pela
mão da distribuidora Filmógrafo.
Sem comentários:
Enviar um comentário