quinta-feira, 16 de agosto de 2018

VÍTOR REIA-BAPTISTA, UM ÚLTIMO COMBATE (1954-2018)

No verão de Avanca, faltará a partir de agora a voz da literacia fílmica, o vento claro do Algarve e sobretudo o prazer de rever em cada ano um homem de grandes lutas.

Vítor Manuel Reia-Baptista partiu neste dia.

Professor da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, ali foi o responsável pela criação do curso de Ciências da Comunicação e diretor do Departamento de Comunicação, Artes e Design.

Doutorado pela Universidade do Algarve em Comunicação em Educação, com especialidade em Pedagogia dos Media e Linguagens Fílmicas, foi na Suécia, na Universidade de Lund, que construiu o seu contexto académico com um Mestrado em Comunicação Cultural e uma Licenciatura em Literatura Comparada, Drama-Teatro-Cinema.

Dedicou a sua investigação científica à Literacia Fílmica, à Literacia dos Media e em Contextualizações Culturais do Cinema. Neste âmbito, foi membro do Grupo de Peritos da Comissão Europeia em Literacia dos Media, consultor do British Film Institute para o projeto European Film Literacy, para além de coordenador do Laboratório de Estudos Fílmicos do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC).

Desde 2011, era membro da Comissão Científica da “AVANCA | CINEMA, Conferência Internacional de Cinema - Arte, Tecnologia, Comunicação”.

Em 2014, o Professor Vítor Reia dirigiu nesta conferência um painel sobre literacia filmica em conjunto com o CIAC, o seu centro de investigação. No seu texto para este evento, assinalou que a literacia filmica permite “fomentar uma alfabetização mais ampla que incorpora ampla experiência cultural, apreciação estética, compreensão crítica e produção criativa”. Um olhar abrangente que atualizava o espaço de intervenção do cinema.

Para além dos seus textos desenvolvidos no âmbito académico, fica a sua poesia.
Fica também o som de uma banda, no projeto “Flajazzados”, por entre os seus textos onde o combate às guerras ganha urgência e crua força.
É aí que a sua voz marcante perdurará.
Do álbum editado, mergulhamos na sua poesia e relemos este trecho final da canção “Triste soldado”:

   “Pronto, vai-te embora, deixa as pedras da calçada a chorar por ti.
   Esquece os mortos, hirtos, tortos, que largaste lá atrás, eles não te vão seguir.
   E o vagabundo que bate mesmo agora à tua porta
   Veste as mesmas roupas que já vestiram a tua carcaça morta.
   Ouve! Acende outro lume! Vais recomeçar outro reinado!
   Mas por agora, agora já se acabou, triste soldado.”

Quinta-feira dia 16 de agosto de 2018, um dia para lembrar Vítor Reia-Baptista, a literacia filmica e o imprescindível combate pela pacificação, sempre. 

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