No crepúsculo dos holofotes de uma
presença e fama planetária, Sylvia Kristel esteve em Portugal a convite do
festival de cinema AVANCA 2006.
O tempo de actriz dava nessa
altura espaço à memória criativa no espaço do cinema de animação.
Nesse ano, o festival abriu com a
exibição do filme “Topor e Moi”, um inesperado e surpreendente filme que
marcava a estreia de Sylvia Kristel na realização e também no mundo dos
desenhos animados. Ali se recria a memória da cena artística de Paris no início
da sua carreira.
Hugo Claus, W.F.Hermans, Vadin e
obviamente Roland Topor, que tinham já ganho vida nos quadros de Sylvia Kristel
(Topor foi seu professor de pintura), são de novo recriados neste filme pleno
de sensibilidades, memórias e reflexões que marcaram o seu olhar maduro.
A uma pintura plena de corpos,
rostos e cores de quase meia estação, juntou-se o cinema como potenciador
gráfico, impulsionador dos movimentos perceptíveis e narrador das histórias que
lhe eram urgentes contar.
O cinema parecia ter mudado de
estação para Sylvia Krystel.
Em Avanca, a actriz experimentou
algo novo - orientar um workshop.
Dirigindo em Avanca “Cinema e
pintura – um espaço criativo para protagonistas” Sylvia procurou, à semelhança
do seu filme, contar histórias de protagonistas por entre as práticas do
cinema, da pintura e da liberdade que juntas, estas artes potenciam.
Kristel, protagonista do papel da mais célebre personagem do
cinema erótico europeu, viu o seu êxito rapidamente transposto para a escala
global num dos raros momentos em que o cinema europeu ocupou o lugar cimeiro da
exibição cinematográfica planetária, ultrapassando rapidamente a mítica fasquia
dos 100 milhões de espectadores.
A personagem “Emmanuelle” deu origem a uma sequela de
filmes. O primeiro, realizado por Just Jaekin, consolidou um género
cinematográfico de que este filme é a sua maior expressão.
Por entre dezenas de personagens que Sylvia Kristel foi protagonizando
ao longo de uma carreira com mais de meia centena de filmes, um destaque muito
especial para “Alice” de Claude Chabrol, onde tem uma das suas melhores
interpretações.
Nos últimos anos, participou sobretudo em produções
holandesas, nomeadamente com Dorna van Rouveroy e Ruud Den Dryver, produtores
das suas incursões na realização cinematográfica e sobretudo seus amigos.
Sylvia faleceu esta noite.
No apagar da luz, certamente que por entre o crepúsculo, uma
nova estrela nos dirá que o eros não é palavra vã e participa na liberdade de
voar com que se escreve cada uma das nossas vidas.
Do AVANCA, um adeus e palmas a Sylvia Kristel.
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