Sabíamos muitas coisas dele,
conhecíamos a esposa, a família, os amigos... sabíamos de algumas
das suas paixões e de como elas em Espinho davam frutos.
Sabíamos que, entre elas, as tiras, os
desenhos, as bandas desenhadas quase o recolocavam no seu tempo de
jovem. Um colecionador nato...
Sabíamos que por força disso se tinha
estatelado, inequivocamente e sem porta de saída, no mundo do cinema
de animação.
Mas não sabíamos que seria a 22 deste
mês que nos deixaria.
Não sabíamos que contava 90 anos,
como se o tempo não tivesse tido conversa com ele.
Afinal, dele não sabíamos tudo, mas
sabia-mo-lo sempre presente.
Sabíamos que preservava a amizade
(como bem o soubemos).
Sabíamos que por isso contava com ela.
Foi, por isso, marcando os cantos de um
mapa que bem conhecia na sua cidade de linhas direitas. Espinho
tinha-o por ali sempre. Catalisador de um modo muito especial, gestor
sempre presente, participante e apoiante atento, foi construindo com
um círculo de amigos marcos de memória que fortificavam cada novo
ponto de partida... e foram muitos e bem conseguidos.
Conhecíamos alguns amigos, quase todos
os que com ele participavam no cinema de animação em Espinho.
Conhecíamos os amigos do CINANIMA, os
que agora fortalecem as paredes desta instituição, mas também
alguns que, como agora ele, já por cá não estão.
Conhecíamos-lhe a amizade e parceria
que manteve, com o Dr. António Cavacas na forma como dirigiram
durante anos os destinos do CINANIMA, da Cooperativa Nascente e
pensamos que outras paragens que estravazavam o cinema mas que não
fugiam da cidade de ambos.
Conhecíamos a amizade com os cineastas
que há muitos anos fazem a animação portuguesa, entre eles,
conhecemos e assinalamos sobretudo Artur Correia e Manuel Matos
Barbosa (amizade de sempre)...
O CINANIMA, os jornais, o movimento
associativo de Espinho, os empreendimentos na cidade por onde passou
criaram-lhe algo que parece que ninguém sabia:
afinal, numa pequena cidade longe da
capital do país é possível construir um espaço e uma vivência de
excelência. Por ali, em Espinho, em movimento constante e em
afirmação clara, um homem deu a volta ao mundo sem se afastar da
sua praia.
António Gaio foi em 1976 um dos
fundadores e dirigente da Cooperativa Nascente, participou na
fundação do CINANIMA, sendo diretor deste festival internacional de
cinema de animação desde 1980. Cineclubista, publicou em 2000 a
obra “História do Cinema Português de Animação –
Contributos”, um livro que marca um ponto de partida para a memória
da animação portuguesa.
Em 1997, recebeu a Comenda de Mérito
Cultural, atribuída pelo Presidente da República e, mais
recentemente, os cidadãos de Espinho, as associações e o município
prestaram-lhe uma justíssima homenagem. Por ali se juntaram os
amigos e foram obviamente muitos...
Entre 1925 e 2015, viveu em Espinho, de
forma magnífica, um homem de cinema.
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