Foi júri das competições do AVANCA e
uma voz amiga, interventiva que sempre todos quisemos ouvir.
António Loja Neves esteve sempre nos
caminhos dos cineclubes, dos festivais e dos filmes que fazem a
memória da nossa cinefilia.
Em português (nos dois lados do
Atlântico), ou em crioulo (de Cabo Verde), sempre soube construir
palavras que passaram do cinema á poesia, das longas e motivantes
conversas ao prazer de redescobrir sábias memórias.
Tinha nascido na Madeira em 1953,
passou na adolescência pelo calor de Cabo Verde e viveu a revolução
numa Lisboa onde os cravos baralharam as normais regras das armas. No
Cineclube Universitário de Lisboa (bem perto da Cinemateca), nos
jornais, nas intervenções apaixonadas com que marcava as suas
posições, sempre encontrou espaço para olhar o cinema e a
sociedade num brilhante colectivo.
Janela atenta e latente do cinema no
“Expresso”, o jornalista Loja Neves foi sempre algo mais. A
escrita permitiu-lhe espaço para a poesia, tendo sido, com o livro
"Barcos, íntimas marcas", Prémio Revelação de Poesia
da Associação Portuguesa de Escritores em 2001. Recentemente e com
Margarida Neves Pereira, publicou uma nova obra, "Arménia: Povo
e identidade".
No cinema, o documentário
transformou-se num dos seus braços armados no espaço da cinefilia e
da intervenção política. Esteve em quase tudo o que de
documentário foi acontecendo no nosso país e, neste género,
realizou em 1993 "Ínsula", seguindo-se "O silêncio"
em 1999, com José Alves Pereira, .
Para além do documentário, o seu mais
profundo mergulho acabaria por ser no cinema dos PALOP (Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Com ele desenvolveu intensa
programação e divulgação, em Portugal, Brasil e Moçambique.
Mostras e festivais que tinham sempre o seu cunho, por vezes quase
inflamado, numa procura de identidade e conjugação de contextos que
sempre o marcaram.
Com Francisco Manso, viria a
coorganizou os “Encontros Internacionais de Cinema de Cabo Verde”,
que marcaram esse tempo e a geografia de uma língua e cultura, que
tiveram por ali um brilhante epicentro.
Licenciado em realização pela Escola
Superior de Teatro e Cinema, esteve sempre nos grandes momentos da
FPCC - Federação Portuguesa de Cineclubes, participando da sua
fundação e intervindo apaixonadamente nos seus movimentos e
dinâmicas.
Aos 65 anos, algo ficou vazio entre
cinéfilos de três continentes. Ficam cruciais razões para nos
lembrarmos do intenso António Loja Neves (1953 – 2018).
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